quinta-feira, 14 de julho de 2016

Rodrigo Maia é eleito novo presidente da Câmara

Numa disputa decidida em 2º turno,  Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara para ocupar um mandato-tampão de seis meses, até 31 de janeiro de 2017. Maia teve 285 votos, contra 170 de Rogério Rosso (PSD-DF). Houve ainda 5 votos em branco entre os 460 deputados presentes.
A eleição foi precipitada pela renúncia ao cargo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado há dois meses do mandato por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal.
Nesse período, a Câmara vinha sendo comandada pelo vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA).
Após a divulgação do resultado, parte dos deputados puxou um coro de "Fora, Cunha". Maia tentou angariar votos com o argumento de que seria o contraponto ao candidato preferido pelo centrão, Rogério Rosso, apontado como próximo a Cunha. Rosso tem rejeitado o rótulo e diz manter apenas uma relação "respeitosa" com Cunha.
No primeiro turno, Maia teve 120 votos, contra 106 de Rosso. O terceiro colocado foi o ex-ministro Marcelo Castro (PMDB-PI), com 70 votos.
Ao discursar após a vitória, Maia chegou a se emocionar ao lembrar da família. "Vamos partir de amanhã tentar governar com simplicidade. Nós temos muito trabalho a fazer, nós temos que pacificar esse plenário. Nós temos uma pauta do governo para discutir, mas também uma pauta da sociedade, que é também muito importante."
Antes, ao discursar antes do segundo turno, Maia já havia dado um tom emocional à sua fala. Ele lembrou que, quando era adolescente, acompanhava as discussões da Assembleia Constituinte, nos anos 1980. Maia citou como exemplo de deputados constituintes, incluindo até o petista José Genoino, condenado no processo de mensalão, os tucanos José Serra e Mário Covas, o peemedebista Ulysses Guimarães, e seu pai Cesar Maia. O PT é adversário histórico do DEM, partido de Maia.
"Só de chegar aqui para mim já é uma grande vitória. Nós vamos governar essa Casa juntos. Nós vamos devolver a soberania ao plenário", afirmou Maia. "Vamos trabalhar para acabar com o império dos líderes. Os líderes são fundamentais, mas não podem ser os únicos a terem a palavra".
Ao discursar na disputa do 2º turno, Rosso propôs um pacto a Maia para que "qualquer que seja o resultado" a Câmara retornasse à normalidade após o resultado, e chamou Maia para um abraço no púlpito do plenário de onde discursou. Rosso afirmou ainda que, independentemente do resultado, "o Parlamento já venceu" e voltou a citar seu apelo por renovação na Câmara. "Já venceu a democracia, já venceu a renovação, já venceu a esperança por dias melhores", disse.
"Quem tem que sentar naquela cadeira [de presidente da Câmara] não é a pessoa, somos todos nós", disse Rosso.

Apoios

Com o 2º turno, os dois candidatos se lançaram numa corrida às salas das lideranças partidárias em busca de apoio.  Eles tiveram pouco mais de uma hora para angariar apoiadores.
O PCdoB e o PDT, partidos da antiga base de Dilma Rousseff, decidiram apoiar Maia no 2º turno da eleição à presidência da Câmara. Maia apoiou o impeachment e seu partido fazia oposição a Dilma. O apoio na eleição foi justificado por líderes do PCdoB e PDT como uma forma de se contrapor à influência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do chamado "centrão", grupo alinhado ao outro candidato, Rogério Rosso.
Maia também conseguiu o apoio do PR e do PTN, ambos do "centrão". O democrata já era endossado pelo PSDB e pela chamada "antiga oposição".
O DEM tem 27 deputados em sua bancada. O último presidente da Câmara do DEM foi Efraim Morais (PB), quando a sigla ainda se chamava PFL, de 2002 a 2003.
Já o PP e o PHS, duas legendas do centrão, decidiram apoiar Rosso. 
O PMDB, maior partido da Câmara, decidiu liberar sua bancada, com o argumento de que os dois candidatos são de partidos da base do presidente interino, Michel Temer (PMDB). Mas o candidato oficial do partido, Marcelo Castro (PI), derrotado no primeiro turno, declarou apoio a Rosso.
O PSOL informou que seus deputados participaram da votação no 2º turno. O partido concorreu no 1º turno com a deputada Luiza Erundina (SP).
Alguns deputados do PT e do PCdoB informaram que não votariam no 2º turno por discordância com os dois candidatos. O PCdoB orientou voto em Maia, e o PT não divulgou sua orientação partidária. "Nem Rodrigo, nem Rosso. Fora, Temer e fora, Cunha!", afirmaram as deputadas Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Alice Portugal (PCdoB-BA).

Em quarto lugar, ficou Giacobo (PR-PR), com 59 votos, seguido por Esperidião Amin (PP-SC), com 36; Luiza Erundina (PSOL-SP), com 22; Orlando Silva (PCdoB-SP), com 16; Fábio Ramalho (PMDB-MG), com 18; Cristiane Brasil (PTB-RJ), com 13; Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO), com 13; Carlos Manato (SD-ES), com 10; Miro Teixeira (Rede-RJ), com 6; e Evair Vieira de Melo (PV-ES), com 5.

A primeira votação, que levou Maia e Rosso ao segundo turno, ocorreu após cerca de 2h30 de discursos. Rosso prometeu estabilidade na gestão e tocar os projetos do governo interino de Michel Temer. Ele também disse que a eleição precisa ter o significado de "renovação"
Maia, candidato apoiado pela antiga oposição à presidente Dilma, citou Michel Temer ao elogiar antigos presidentes da Câmara. O deputado do DEM também reconheceu o momento de "crise política" e prometeu respeitar as minorias parlamentares. 
Em discurso que destoou dos demais pela informalidade, Carlos Manato (SD-ES)iniciou sua fala rasgando o discurso escrito, segundo ele, por seus assessores. "Me desculpa, mas o que vocês escreveram aqui é a mesmice, a mesma coisa que os outros já disseram", disse, ao rasgar a papelada em plenário. Manato afirmou que o processo eleitoral é distorcido. "Eu não ouvi ninguém dizendo aqui que quer trabalhar mais", disse. 
Os dois únicos candidatos, entre os 13 deputados na disputa, que representam partidos de oposição ao governo interino, Luiza Erundina (PSOL-SP) e Orlando Silva (PCdoB-SP), fizeram críticas ao processo de impeachment e ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Erundina usou o bordão "fora, Cunha" durante o discurso e afirmou que iria promover pautas de cunho social, como reforma agrária, tributária e urbana.

A eleição dividiu a base do presidente interino, Michel Temer, com diversas candidaturas de partidos governistas.

Mandato-tampão

O escolhido vai comandar a Câmara até 1º de fevereiro do próximo ano, quando ocorre a eleição para a chefia da Câmara para o biênio 2017/2018. O mandato será curto, de seis meses já que na próxima semana o Congresso Nacional entre no chamado recesso branco e só retoma as atividades em agosto.
Apesar disso o futuro presidente terá desafios a enfrentar, como o processo de cassação de Eduardo Cunha e a tramitação de propostas impopulares de interesse do governo do presidente interino
O chefe da Câmara também será o sucessor imediato de Temer caso ele seja confirmado na Presidência da República no lugar de Dilma Rousseff. Caberá ao novo presidente assumir o comando do país quando Temer viajar ao exterior, por exemplo.
Como benefícios do cargo, o presidente da Câmara terá direito a residência e carro oficiais, equipe de segurança, gabinete exclusivo e voos em jatos da FAB (Força Aérea Brasileira)
A eleição foi precipitada pela renúncia de Eduardo Cunha ao cargo, na última quinta-feira (7), dois meses após ser afastado do exercício do mandato, e, portanto, do cargo, pelo STF (Supremo Tribunal Federal), por suspeitas de que usava o cargo para interferir nas investigações contra ele. 
Atualmente, Cunha enfrenta um processo de cassação no Conselho de Ética e diversas investigações no STF por suspeitas de participação em esquemas de corrupção. O deputado nega irregularidades e diz que vai provar sua inocência

terça-feira, 12 de julho de 2016

Comissão avalia hoje se anula votação para cassação de Cunha

A votação do recurso do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contra sua cassação – o último antes de uma decisão do plenário –, começa hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, se depender da tropa de choque do peemedebista, pode se estender ao longo da semana. Com quase 30 parlamentares já inscritos para falar, a previsão de parlamentares é de que não haja tempo suficiente para os 66 membros do grupo decidirem no mesmo dia sobre o pedido de anulação da votação no Conselho de Ética que recomendou a cassação de Cunha.
Se o cronograma se confirmar, a decisão sobre Eduardo Cunha pode encavalar com a votação da escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados. Cunha renunciou à presidência na quinta-feira e, mesmo depois disso, continua manobrando para tentar preservar seu mandato de deputado. Entre as últimas tentativas de salvar a pele, conseguiu trocar integrantes da CCJ, incluindo por exemplo o deputado Paulinho da Força (SD-SP), um de seus aliados mais próximos.No relatório apresentado, o deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF) acatou somente um dos 17 pedidos da defesa e recomendou a anulação da votação no conselho por ela ter sido feita por chamada dos parlamentares e não no painel eletrônico. Ele disse não estar preocupado com o resultado da votação, mas que, regimentalmente, se os colegas quiserem que o processo de cassação de Eduardo Cunha se dê com lisura, é preciso anular a votação. “Todas as votações do caso Eduardo Cunha no conselho foram pelo painel eletrônico, isso quer dizer que era legal. Aí, de repente, na última, inovam. Por quê? Para poder constranger os deputados”, afirma.A reunião está marcada para começar às 14h30 de hoje. Os advogados de Cunha terão até duas horas e 19 minutos para falar. Antes disso, o relator Ronaldo Fonseca deve ler a complementação do seu voto, negando o aditamento pedido por Eduardo Cunha. Nele, o peemedebista pedia o fim do processo por causa de sua renúncia à presidência da Câmara. Cada um dos cerca de 30 inscritos para falar terá 15 minutos. O presidente da CCJ, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), dará 20 minutos para Eduardo Cunha.“A defesa vai ter o mesmo tempo que o relator para se pronunciar e haverá discussões. Com isso tem chance de o processo se alongar durante a semana”, afirmou o vice-presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG). O grupo ainda tem reuniões na quarta e quinta-feira. Colega de partido de Cunha, Pacheco não arriscou um palpite sobre o resultado da votação e disse que nem ele próprio decidiu o voto. “É muita juridicidade, estou pesquisando para ter uma decisão mais balizada. Não consigo dizer qual o sentimento geral, até porque estão falando mais da questão da presidência (da Câmara)”, afirmou.
Já o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) acredita que a decisão será pela continuidade da cassação de Eduardo Cunha, ainda que por um placar apertado, de uns cinco ou seis votos de diferença. “Há um sentimento de que o Cunha está sendo velado politicamente, mas isso não significa que ele não tenha influência. Acho que esse recurso de refazer a votação não passa, mas vamos ver só na hora”, diz. Chico Alencar disse que irá trabalhar para que a votação seja concluída hoje mesmo.

fonte em.com.br

segunda-feira, 11 de julho de 2016

O que acontece com Cunha e com a Câmara após a renúncia?

Após meses negando publicamente a possibilidade de renunciar ao mandato de presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciou justamente o oposto na tarde desta quinta-feira. Surpresa? Nem tanto.
O anúncio já era esperado entre parlamentares e cientistas políticos. Para muitos, indicaria uma última cartada para tentar evitar a cassação de seu mandato - a eleição de um aliado de Cunha como novo presidente da Casa poderia interferir diretamente na decisão da Comissão de Constituição e Justiça, que decidirá se o processo contra ele regredirá ou irá a plenário.
Para outros, entretanto, a renúncia apenas revelaria o alto grau de desgaste do parlamentar - citado em diversas delações na operação Lava Jato e réu em duas ações abertas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o peemedebista é acusado de ter mentido aos colegas sobre ter contas na Suíça, o que ele nega.
Diante da situação praticamente insustentável, a renúncia poderia ser uma escolha que evitaria o "constrangimento" de ser afastado por colegas parlamentares que fizeram parte do "baixo clero" apoiador de Cunha - caso da deputada Tia Eron (PRB-BA), aliada política que teria cedido à pressão popular e acabou votando pelo afastamento do parlamentar no Conselho de Ética da Casa.
Para Michel Temer, o afastamento é positivo, já que a pressão popular contra Cunha e sua insistência em sem manter na presidência da Câmara representariam uma pedra no sapato do presidente interino às vésperas da decisão final do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Por outro lado, caso a Comissão de Constituição e Justiça decida anular a votação na qual o Conselho de Ética recomendou cassar o mandato de Cunha, o que faria o processo recuar, Temer também poderia cair em maus lençóis - sendo visto como parte de um eventual "acordão" para salvar o aliado.
Consenso entre analistas e parlamentares é o favoritismo de Rogério Rosso (PSD-DF) na disputa para assumir o comando da Câmara.

Rosso foi o presidente da comissão que avaliou o impeachment de Dilma na Câmara e tem boa relação com Temer, com a maioria dos deputados e... com ele mesmo, Eduardo Cunha.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Por que a atual situação política de Lula e do PT é pior do que em 2005

Lula e o PT estão em situação política muito pior hoje do em 2005. As pesquisas de opinião que estão sendo realizadas por partidos políticos em cidades do Brasil inteiro para balizar posições para o pleito municipal mostram isso de forma quase chocante. O PT se tornou sinônimo de corrupção para boa parte dos brasileiros e Lula não consegue se separar da crise do partido.
Há algum tempo, havia diferença entre a popularidade de Lula e Dilma, hoje, sem contar o Nordeste, os números são muito parecidos. Dilma e Lula estão abaixo do volume morto, como já registrou o ex-presidente.
A situação de boa parte dos prefeitos não é diferente. E mesmo governadores como Geraldo Alckmin, sempre tão blindado, teve uma diminuição bastante grande do seu capital político. A população está identificando a piora na economia e na sua qualidade de vida aos político em geral. Mas, claro, em especial ao PT, Lula e Dilma.
É aí que a porca torce o rabo.
Em 2005, no auge da crise do mensalão, o governo de Lula começava a decolar. O então presidente organizou a Esplanada e deu o seguinte recado: trabalhem nos projetos para entregar tudo que está planejado. E deixem que da política cuido eu.
E agendou dezenas de reuniões com parlamentares, fez festa com prefeitos para anunciar medidas positivas, encontros com governadores, empresários e foi revertendo o clima de pessimismo.
A pauta do mensalão continuou abatendo lideranças petistas, mas os canhões da investigação não se direcionaram a Lula. E quem achava que ele estava morto para a reeleição se surpreendeu com a sua grande recuperação.
Agora, a situação é outra. O governo é um grande muro de lamentações. Não há ministro e assessor de ministro que não reclame dos cortes e da incapacidade de operar sua área. Os principais projetos estão todos amarrados e o efeito Levy começa a ser sentido de forma mais bruta neste início de ano, quando se percebe que vai ser necessário cortar na carne para atravessar 2016.
Os principais projetos sociais do governo, por exemplo, tiveram seus investimentos reduzidos para níveis de 2010, 2011. E a crise econômica internacional parece não dar grandes esperanças de mudança.
No plano municipal, as coisas ainda estão piores. Em 2005, não havia eleição à vista. Agora, os prefeitos vão ter de revalidar seus mandatos ou tentar eleger sucessores daqui a meses. E as prefeituras estão combalidas. Com caixas vazios, sem capacidade de investimentos e muitas com perspectiva de estouro de orçamento. Ou seja, esses prefeitos estão com receio de cometerem crime de responsabilidade fiscal e ficarem inelegíveis.
A crise já afetou o Carnaval. Em muitas cidades, desfiles foram cancelados e o setor público abandonou qualquer tipo de financiamento da festa.
Quem teria de coragem de num clima desses chamar um encontro de prefeitos? Que prefeito vai defender o governo federal numa situação de crise com poucas chances de reversão no curto prazo? E quantos candidatos vão querer colocar foto sua ao lado de Lula e Dilma?
Há chances de recuperação do governo, do PT e de suas principais lideranças? Evidente que sim. Mas engana-se quem acha que o contexto do mensalão pode ser comparado com o de agora. A situação é muito mais delicada e vai atravessar 2016. Só depois da eleição municipal e se a economia de fato iniciar uma recuperação ou estabilização neste segundo semestre, como aposta um importante ministro de Dilma, é que se vai poder olhar o cenário de forma menos turva.
Mas mesmo os mais otimistas petistas graduados hoje já têm claro que a recuperação da imagem do partido e do seu principal líder, se vier a acontecer, será muito mais lenta. E talvez só aconteça depois de um governo da oposição, quando, acreditam, aqueles que hoje criticam o PT e Lula, perceberão quais eram as verdadeiras intenções dos que os atacam.
lula pt 1